Paraceratose nasal (gene SUV39H2, Labrador Retriever)

A epiderme é a camada mais externa da pele e é continuamente renovada ao longo da vida pela constante proliferação de queratinócitos, as células especializadas que constituem a epiderme. A paraqueratose nasal é uma doença autossómica recessiva que surge devido a um defeito neste processo de diferenciação celular na epiderme, manifestando-se principalmente pelo aparecimento precoce de crostas e fissuras no plano nasal (bordo superior do nariz).

Sintomas

A paraqueratose nasal apresenta-se clinicamente com hiperqueratose não pruriginosa no plano nasal, com sinais clínicos evidentes entre os 6 e os 24 meses de idade. Os sintomas variam desde lesões ligeiras, como a hiperqueratose do plano nasal dorsal, até casos mais graves com fissuras e erosões. A hiperqueratose envolve um aumento anormal da queratina e, no caso da paraqueratose nasal, caracteriza-se pela acumulação de líquido proteico ("lagos de soro") no estrato córneo, pela retenção de núcleos neste estrato da epiderme e pela presença de inflamação variável na derme e na epiderme. Apesar destes sintomas cutâneos, os cães afectados permanecem geralmente saudáveis.

Gestão da doença

O tratamento da paraqueratose nasal inclui a aplicação de hidratantes tópicos para manter a hidratação da pele e reduzir a acumulação excessiva de queratina no plano nasal. Em casos mais graves, com fissuras ou erosões, são utilizados tratamentos específicos para promover a cicatrização e prevenir a infeção. As opções imunomoduladoras, como os corticosteróides tópicos ou o tacrolimus, podem ser consideradas para reduzir a inflamação. A monitorização e o tratamento de infecções secundárias são cruciais, e o acompanhamento veterinário regular permite que o plano de tratamento seja ajustado conforme necessário.

Base genética

Esta doença segue um modo de hereditariedade autossómico recessivo. A herança autossómica recessiva significa que o cão, independentemente do sexo, deve receber duas cópias da mutação ou variante patogénica para estar em risco de desenvolver a doença. Ambos os progenitores de um cão afetado têm de ser portadores de, pelo menos, uma cópia da mutação. Os animais com apenas uma cópia da mutação não correm um risco acrescido de desenvolver a doença, mas podem transmitir a mutação às gerações futuras. Não é recomendado o cruzamento entre cães portadores de variantes genéticas que possam causar a doença, mesmo que não apresentem sintomas.

Relatório técnico

A paraqueratose nasal tem sido associada a duas variantes distintas, cada uma presente em duas raças específicas: Labrador Retriever e Galgo Inglês. Em ambos os casos, o gene associado é o SUV39H2, responsável pela codificação de uma enzima modificadora de histonas. A função da SUV39H2 baseia-se na catalisação da adição de grupos metilo ao resíduo de lisina 9 da histona 3 (H3K9), modulando assim a estrutura da cromatina e provocando o silenciamento da transcrição. Este fenómeno impede a expressão do gene afetado, resultando na ausência da proteína correspondente. Notavelmente, a metilação da lisina em proteínas não-histonas também desempenha um papel regulador em vias de transdução de sinal cruciais para a diferenciação epidérmica, tais como MAPK, WNT e JAK-STAT. No nosso estudo, analisámos a variante descrita na raça Labrador Retriever (c.972T>G). Esta é uma variante sem sentido que afecta um resíduo de aminoácido altamente conservado do domínio SET e estima-se que suprima completamente ou quase completamente a função de metiltransferase do SUV39H2.

As raças mais afectadas

  • Labrador Retriever
  • Cão de caça inglês

Bibliografia

Bannoehr J, Balmer P, Stoffel MH, et al. Abnormal keratinocyte differentiation in the nasal planum of Labrador Retrievers with hereditary nasal parakeratosis (HNPK). PLoS One. 2020 Mar 2;15(3):e0225901.

 

Jagannathan V, Bannoehr J, Plattet P, et al. A mutation in the SUV39H2 gene in Labrador Retrievers with hereditary nasal parakeratosis (HNPK) provides insights into the epigenetics of keratinocyte differentiation. PLoS Genet. 2013;9(10):e1003848.

Pagé N, Paradis M, Lapointe JM, et al. Hereditary nasal parakeratosis in Labrador Retrievers. Vet Dermatol. 2003 Apr;14(2):103-10.

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